Café com o Sensei Ir para o Conteúdo
imgcentral

Café com o Sensei

Pensamentos e comentários do Sensei Jorge Kishikawa




Retornar para últimas postagens

    28-out-2014

    Soke e Shihan 2 - Trifurcação?

    Não tem jeito. Este é um assunto que eu bem que previ, não se encerraria em apenas um Café (CS - Soke e Shihan - 10 - Out-  2014).
    Quando tem algo de errado, começam a aparecer as dúvidas. E no Niten Ichi Ryu, a partir do 10º soke Imai, apareceram várias.
    Como o deste aluno, que mesmo após ter treinado comigo no Japão e conhecido o Niten Ichi Ryu por lá, levantou esta dúvida:


    “Quando li o Café intitulado ´Soke e Shihan´, fiquei impressionado com a força representada pela longevidade da tradição iniciada por Musashi Sensei e passada geração após geração até os nossos dias. Entretanto um fato me chamou a atenção, causou estranheza e dúvida: a linha sucessória mostra que até o sétimo sucessor de Musashi Sensei, Soke e Shihan foram o mesmo indivíduo.
     A partir daí houve uma bifurcação e pouco depois uma trifurcação! Como aquilo era possível? O que aconteceu Sensei??
    Onegaishimasu!”
    - Sanches (Unidade Ana Rosa)



    Por existir algo de errado, a questão fica bem fácil de ser compreendida.
    Então, para compreendermos bem, vamos lembrar da linha da sucessão:



    Detalhe da linha da sucessão (Link para a Linha completa)

    Faleceu repentinamente o 9º Soke Kiyonaga Tadanao (Menkyo Kaiden) por volta de 1976 e toda a comunidade Niten Ichi Ryu esperava que o seu filho Kiyonaga Fumiya assumisse a condição de soke.
    Naquele momento, nem Fumiya nem sua mãe aceitaram o convite, pelo fato dele ser universitário e não ter tempo para arcar com tamanha responsabilidade.
    Por ainda ser um período complicado do pós-guerra e com poucos praticantes, foi convidado o sr. Imai Massayuki, que apesar de ser iniciante na escola e já com mais de 60 anos de idade, idade avançada para assimilar toda uma técnica de um estilo ímpar como o Niten Ichi Ryu, era um dos únicos que gozava de uma estabilidade para representar (tal como um presidente de uma organização), mas com uma prerrogativa: a de repassar o título de soke a Fumiya.
    Foi solicitado ao mestre Gosho Motoharu, único Menkyo Kaiden remanescente na época, e portanto único apto a passar o Menkyo Kaiden, que ensinasse as técnicas ao recém-ingressado Imai.

    Pouco tempo depois de iniciar o aprendizado, Imai, detentor do título de Soke, gradativamente afastou o seu mestre
    de treinos, apresentações e eventos oficiais do estilo, antes mesmo de receber o título de Menkyo Kaiden*, título que acabou nunca recebendo.

    *Menkyo Kaiden
    = título máximo do estilo e que autoriza a ser mestre

    Décadas se passaram, mas nada de passar sucessão ao então, já com 50 anos, Sensei Kiyonaga Fumiya. Outras escolas de Kobudo (estilos antigos) começaram a comentar a morosidade deste processo e a própria comunidade Niten Ichi Ryu começou a ficar inquieta.
    Imai postergou até o último período de sua vida esta passagem e pressionado pela situação resolveu então passar a sucessão já beirando os 90 anos. Mas para espanto de todos e contrariando toda a tradição da escola (e da história), decretou, como se fosse o porta-voz de Deus, algo inédito: que não haveria mais sokes a partir de sua geração.
    – Mas por quê? – foi a pergunta que todos fizeram.
    A resposta, já sabíamos. Durante todo este tempo em que esteve soke, Imai sempre manteve uma atitude hostil a Kiyonaga Fumiya, dando preferência ao seu aluno nativo Iwami Toshio. Judiava literalmente do filho do soke anterior e a quem deveria repassar novamente o título de soke, como combinado na década de 70.

    Diante da conjuntura existente, como não poderia passar a sucessão somente ao seu preferido Iwami, “inventou” de nomeá-los de “11º representantes” ("Dai"):
    -Kiyonaga Fumiya
    -Iwami Toshio
    -Ching (taiwanês que treinou com o 8º soke Aoki Kikuo no período em que este morou em Taiwan, e que devolveu o bokuto de Musashi Sensei, após Aoki Soke voltar ao Japão após a guerra, sem, na ocasião, poder trazer o bokuto de volta consigo.)


    Tal prepotência deixou toda a comunidade do Kobudo (e até a Federação de Kendo de Oita) revoltada. Sinal de ultraje, lama e vergonha.
    Mas não havia o que fazer.

    Passaram se alguns meses e recebemos na madrugada um telefonema inesperado do Japão: faleceu, aos 50 e poucos anos, Sensei Kiyonaga Fumiya. Motivo: aneurisma de aorta.
    Sensei Fumiya estava para vir ao Brasil em poucos meses. A fatalidade deixou toda a nossa comunidade Niten Ichi e do Kobudo do Japão entristecida.
    No dia seguinte era a abertura do Torneio por Equipes na Urca (Rio de Janeiro 2004), quando divulgamos o ocorrido e com todos reunidos foi dedicado o minuto de silêncio em memória do mestre. Um dia triste. O fim de um sonho.
    Um tempo depois, recebemos a ligação de um de nossos colegas do Japão com uma noticia absurda: Iwami Toshio se proclamou soke.
    -O que? Como? Impossível! Imai não havia proclamado que não haveria mais soke? Está voltando para trás??!! – foi o que dissemos todos nós da comunidade Niten Ichi Ryu.
    Não satisfeitos e pasmos com este absurdo, entramos em contato com o Japão e ouvimos dizer que, poucos dias antes de Imai falecer, Iwami “correu atrás” do “certificado” que o nomeasse soke (já que não iria mais ter concorrentes, a não ser Ching, de Taiwan, que estava mais distanciado de qualquer forma)

    O fato foi consumado quando, a fim de buscar mais esclarecimentos, entramos em contato com a Nihon Kobudo Kyokai, entidade que tem a função de cartório onde se registram os estilos antigos.
    Na época, o secretário-geral da NKK, sr. Takahashi, confirmou-nos o recebimento por parte de Iwami de uma simples folha de papel em que Imai designou-o como soke. Mas havia algo que lhe chamou a atenção: a ¨simples folha¨, não fora escrita com fude (pincel japonês e nanquim), o que não estava de acordo com a tradição das artes nipônicas.
    Disse-nos que foi escrita com uma caneta esferográfica do tipo ¨bic¨.

    -E vocês aceitaram?-Indagamos ao sr Takahashi.
    -Não tivemos alternativa. Tivemos que aceitar, pois tem o carimbo do Imai. - foi a resposta.

    Esta história é complicada se você um dia ambiciona ser um soke.
    Mas se está no Caminho apenas para aprender e conhecer a técnica de Musashi Sensei, o caminho é simples:

    1º. Verifique se a sua escola faz parte desta linha de sucessão, pois há escolas que apesar de se intitularem “Niten Ichi Ryu” ou outros similares, nada tem a ver com a linha de sucessão e as técnicas originais.

    2º. verifique se nesta linha de sucessão, o professor tem o Menkyo Kaiden.



    Ao centro Kiyonaga Fumiya junto com Sensei e Sempai Wenzel no Japão em 2002
     

    24-out-2014

    Ikoi No Sono 3 - Descobrindo um Elo escondido


    Link para a Matéria no Site do São Paulo Shimbum



    Tradução da Matéria Publicada no Jornal:

    "O Instituto Niten visita Ikoi no Sono


    O grupo de jovens Hayabusa do Instituto Niten (Presidente Jorge Kishikawa) visitou no dia 21 de setembro a casa de repouso Ikoi no Sono em Guarulhos.
    Apresentou para os idosos o Kendo, Kenjutsu, Iaijutsu e Jojutsu.
    Midori Saito (26 anos, 3ªgeração de japonês) e Toshi Nagumo (32 anos, 3ª geração de japonês) visitou o jornal para comunicar sobre o evento.

    Foi a primeira vez que visitaram o asilo, e o objetivo principal é praticar a compaixão pelo próximo.
    Ensinamento esse que aprendem no Instituto Niten.
    Todos participaram com o intuito de entreter os idosos.

    Aproximadamente 20 alunos apresentaram o que aprendem em seu treinamento diariamente.
    Muitos idosos ficaram com lágrima nos olhos, emocionados, lembrando de sua infância, quando praticavam Kendo.

    A enfermeira do Ikoi no Sono contou "Não imaginei que a apresentação fosse causar tamanha emoção aos idosos"

    Felipe Gisondi, aluno do Instituto Niten relatou "Conviver com essas pessoas que são o elo entre Japão e Brasil foi muito gratificante"

    "Todos estavam felizes, então pensamos em continuar com esse projeto daqui em diante" comentaram as duas que visitaram o jornal."
     

    23-out-2014

    Ikoi no Sono 2 - Luta pelo idoso






    Exibição de Kenjutsu



    Ao lado de um ex-praticante de Kendo



    Teresia (Coordenadora geral do Ikoi No Sono) e Toshi Nagumo (Coordenadora do Hayabusa)



    22-out-2014

    Ikoi no Sono 1 - Sentir-se bem

    Mas o que tem a ver uma escola , "academia" ou organização de artes marciais fazer uma apresentação e workshop em um asilo? - dirão alguns ou até muitos.
    Talvez nada. Pois hoje em dia, estão muito ocupadas em promover torneios, exames de graduações, olimpíadas e por aí vai. Em busca de medalhas e troféus. De títulos e "dans".
    Mas no Niten, isto não importa. 
    Fazemos porque nos sentimos bem. 
    Fazemos porque o mundo se sente bem.
    Fazemos porque nesta vida, medalhas ou títulos valem muito pouco (ou até nada?) diante do tempo que estivemos felizes enquanto estivemos no Niten.
    Dentro deste contexto, você há de concluir que o Niten realmente NÃO é uma academia...
    Aos Hayabusa, jovens guerreiros que levam a espada que dá a vida em abundância, meu arigato.





    Texto do  Jornal Nikkei traduzido:

    "O grupo de Jovens do Niten apresenta o Kenjutsu a Casa de Repouso Ikoi no Sono e idosos ficam emocionados.

    O grupo de jovens Hayabusa do Instituto Cultural Niten (Presidente Jorge Kishikawa), visitou a Casa de Repouso Ikoi no Sono em Guarulhos no dia 21 de setembro para uma apresentação e confraternização.
    20 integrantes do grupo Hayabusa apresentaram o Kenjutsu, Iaijutsu e Jojutsu alegrando aproximadamente 80 idosos com idade entre 70 a 90 anos.

    O objetivo da visita, foi colocar em prática o que é ensinado no Instituto, como Exercer compaixão e tirar o sofrimento das pessoas.
    O Membro do grupo Felipe Gisondi comentou "Foi uma honra conviver com os idosos. Pode passar anos, que vou recordar dessa experiência"
    A Coordenadora Social, Akatsuka Teresia falou "Foi uma tarde muito proveitosa que os idosos puderam passar e, certamente, muitos voltaram a recordar com carinho a sua pátria"
    E a Chefe de enfermagem, Evelyn Nascimento relatou " Percebi o olhar atento dos idosos, todos envolvidos com a apresentação, muitos deles vibravam com lagrimas nos olhos. Não imaginei que a apresentação fosse causar tamanha comoção aos idosos" superando suas expectativas.

    O grupo Hayabusa conta com membro com idades que variam de 10 a 30 anos e atualmente, somente na capital conta com aproximadamente 66 membros que atual diretamente em ações sociais."


    15-out-2014

    Kurosawa foi nosso Aluno?

    "Ame Agaru". É o nome do filme que aqui no Brasil ficou conhecido como "Depois da Chuva", escrito por Akira Kurosawa e finalizado pelo seu discípulo Takashi Koizumi.
    Misawa Lhei, um samurai habilidoso e sem emprego (ronin) demonstra a sua técnica de Kenjutsu aos dois mais experientes de um castelo, perante o senhor feudal.
    Os desafiantes de Misawa armam a postura tchudan (ponta direcionada sobre Misawa) do qual ele facilmente se esquiva por várias vezes, e no final, desarma-os sem feri-los. Aparentemente, a deduzir pelos passos e movimentação de braços, os atores que interpretavam os desafiantes foram adestrados no Kendo: ponta da espada apontada sobre o oponente e passos com o pé direito a frente.
    Não. O ponto a que eu quero chegar não é falar da superioridade do Kenjutsu ou do Kendo.
    O que é então?
    É que a postura, o kamae adotado é o nosso katate gedan, do estilo Hyoho NIten Ichi Ryu, de Miyamoto Musashi. Segurando com a mão direita a empunhadura (katate) e a ponta pendente na direção ao solo (gedan). É o nosso primeiro kata, a primeira lição a ser aprendida quando se ingressa no Niten:
    - Largue sua espada e segure-a só com uma mão - é a lição numero 1 aqui no Niten.
    A partir daí, se desenrola uma série de técnicas aplicadas no nosso treino em combate e que por escrito fica complicado elucidá-las aqui. Tem que vir na aula.
    Os golpes são de uma eficácia tal, que nenhum dos dois desafiantes sairia ileso, não fosse a compaixão de Misawa.
    Deduzo, a partir desta cena, que Kurosawa e seu discípulo tenham sido extremamente meticulosos e perfeccionistas ao procurar o melhor do Kenjutsu para tornar a obra de arte impecável, mesmo aos olhos de um estrategista.
    E até desconfio se Kurosawa não teria sido um dos nossos alunos aqui no Niten...




    "Duelo de Kenjutsu"
     

    10-out-2014

    Soke e Shihan

    Uma das maiores confusões a que está sujeito o ocidente - e muitos japoneses - é de que Soke e Shihan tem o mesmo significado.
    Quem pensa desta forma, está totalmente errado. Enganado.
    Vou falar sobre o primeiro: Soke. Formados pelos ideogramas "principal" e "família", são indivíduos que, praticantes ou não, foram nomeados pelos seus antecessores, representantes da escola a que pertencem. Consanguíneos ou não em relação ao fundador, exercem , em palavras simples, funções comparáveis aos dias atuais a de "presidente de uma organização" perante a sociedade em geral.
    Shihan, já exige do indivíduo uma habilidade técnica superior a de todos os seus alunos, pois será aquele que conduzira às aulas e o futúro da referida escola. Certificados concedidos pelo Shihan como Menkyo Kaiden e Menkyo atestam a maestria para um indivíduo ser reconhecido como Shihan. Em poucas palavras: o mestre.
    Importante saber que cada estilo tem a sua forma em se tratando de sucessão. Por exemplo, o Suiyo Ryu Iai Kenpo tem o Soke e Shihan em uma única pessoa (Katsuse Yoshimitsu), bem como o estilo de Musashi sensei, o Hyoho Niten Ichi Ryu Kenjutsu (Yoshimochi Kiyoshi) e outros. Por outro lado, o Tenshin Katori Shinto Ryu tem o Soke (Iizasa Yasusada) e Shihan (Otake Risuke) em pessoas distintas e por aí vai.
    Ao praticante, interessa saber, desde que busque o aprendizado sem distorções ao longo do tempo, se o seu Shihan tem um certificado legítimo de Menkyo ou Menkyo Kaiden. E, se eu falo legítimo, é porque existem os ilegítimos.
    Do contrário, pode se dizer que estará praticando uma técnica falsa e incorreta, pois há grande chance deste que está a sua frente ser um grande "picareta".
    A não ser que ele seja um mestre iluminado pelas graças do divino.




    Linha de sucessão do Estilo Niten Ichi Ryu

    07-out-2014

    13º TBEK 2 - Sekigahara em Santo André

    "Quando vou a um evento do Niten, seja torneio, gashuku, encontro, sempre volto para casa mais motivado e com a bagagem mais cheia.

    Depois de ter feito o meu Duelo de Fukushima em São Paulo,
    pude realizar a minha Batalha de Sekigahara em Santo André.

    Após participar do meu 5º torneio, posso dizer o quanto que me deixou mais seguro e me deu mais coragem, enfrentar esses desafios como duelos de vida ou morte. 

    Conforme o Sensei falou, essa sensação de ter aquele frio na barriga, ficar nervoso, dormir pouco, é algo que todos devem experimentar.
    Meu desempenho foi até além do que eu esperava nos combates, talvez por eu estar menos tenso do que das últimas vezes. Ainda assim, ficaram evidentes algumas falhas técnicas a corrigir, e isso também me anima a sempre buscar melhorar mais e mais.

    E, além do torneio, é sempre bom destacar o convívio que temos entre irmãos de espada de diversas unidades diferentes. Conhecer e reencontrar companheiros com um Caminho em comum.

    No dia seguinte, tive a honra de ser convidado para participar do workshop de monitoria. Como não estava com papel e caneta no momento, tentei recordar cada detalhe para escrever durante meu retorno para casa.

    Domo arigato gozaimashita, Sensei e Senpai Wenzel, por toda a experiência passada e até mesmo, por ter tido a chance de participar deste workshop! 
    Estarei priorizando o Gashuku de Fim de Ano, já que estive impossibilitado de participar do último.
    Que a minha bagagem de volta esteja cada vez mais cheia!

    Sayonara arigato gozaimashita!"

    Pinheiro - Unidade Tijuca - RJ






























    01-out-2014

    Revista Bushido Brasil - Espírito Samurai

    É com alegria que recebo este exemplar da revista "¨Bushido".
    Tal como escreveu o editor chefe desta, o objetivo deste número é mostrar aos leitores a origem que leva o nome da revista.
    E sobre este assunto, não com orgulho, mas com a certeza de estar cumprindo a missão, acredito que consegui ilustrar um pouco sobre.
    Hoje, no vôo vindo de Frankfurt ao Japão, sentou ao meu lado um senhor japonês com os seus 70 e poucos anos voltando de um tour pela Alemanha e Itália, cenas comuns entre os aposentados. Mas este, diferente da maioria dos japoneses, estava curioso por me conhecer.
    Quando soube o que eu fazia, me agradeceu com uma reverência por estar difundindo a cultura e o espirito japonês, este último que está se perdendo aqui com a globalização e mudança dos tempos. Fiquei um tanto sem jeito.
    Apertou me a mão (coisa rara entre nós japoneses), me entregou seu cartão de visitas, se desculpou pela petulância e, por final, pediu me para que continuasse com a missão.
    -Ganbarimasu. - Respondí-lhe em nome do Bushido.












    Clique para ampliar as páginas

    Texto da Matéria Publicada na Revista Bushido Brasil:

    "ZEN NO COTIDIANO
    Espírito Samurai 
    (...)


    A tradição dos lendários guerreiros japoneses está mais viva do que nunca e é ensinada no Brasil de forma idêntica ao que era no Japão de 700 anos atrás


    A busca pela perfeição. Essa era a vida dos samurais no antigo Japão. Disciplinados, organizados e com extremo sentido de trabalho em equipe, estes homens foram durante séculos parte da elite japonesa. Em São Paulo, todo este conhecimento e disciplina são repassados por um discípulo direto de antigos mestres da terra do sol nascente. O Sensei Jorge Kishikawa, criador a mais de vinte anos do Instituto Cultural Niten, espalha os ensinamentos milenares das artes da espada samurai. Além disso, em sua escola, o praticante imerge em um mundo onde a filosofia do Bushido e da cultura japonesa são os principais focos. O Bushido (o caminho do guerreiro) era e continua sendo, um rígido código de conduta que regra a vida de qualquer samurai. Este código não é escrito, mas ele é assimilado com o decorrer das décadas de treinamento. A conduta de qualquer praticante da arte da espada, o “Kenjutsu”, ensinado pelo Sensei Jorge, é pautado nas virtudes do Bushido (honra, sinceridade, compaixão, honestidade, lealdade, coragem, humildade, cortesia e polidez). É desta forma que ele comanda seu tradicional “dojo” desde 1993. Atualmente, o Instituto Niten, é considerado um dos maiores centros de ensino das artes tradicionais dos Samurais fora do Japão. Mais de 10 mil pessoas já passaram por lá. São 50 dojos espalhados pelo Brasil, Argentina, Chile, Uruguai, México, Estados Unidos e Europa. Todos com o mesmo intuito, “buscar a invencibilidade e trazer a espada que dá a vida. Em abundância”.

    De acordo com o Sensei Jorge, que desde a adolescência visita o Japão – já foi mais de 100 vezes, para poder “beber da fonte” como ele mesmo gosta de dizer, o treinamento consiste em aprender as técnicas (katas) que há mais de 700 anos eram ensinadas e aplicá-las no combate. Este treinamento, aliado a orientação filosófica, possibilita que haja a metamorfose do cidadão comum para o “guerreiro”, permitindo uma melhoria na qualidade de vida do praticante. O mestre é o primeiro 7º Dan desta arte no Brasil. Ele foi aprovado com unanimidade por uma banca de mestres japoneses. Sua educação tradicionalmente japonesa foi complementada a partir dos seis anos quando iniciou na prática do Kendo. Dentre os inúmeros títulos, sagrou-se pentacampeão brasileiro de forma consecutiva, por 2 vezes, invicto em quase 80 embates. Foi vice-campeão mundial em 1985, em Paris e 3º colocado no mundial em 1977, em Tóquio.

    Sempre buscando incessantemente os conhecimentos do “Kobudo” – (ko – antigo; budo – artes samurais), ele descobriu os segredos dos estilos de combate criados pelos samurais. Dentre eles, podemos destacar o “Hyoho Niten Ichi Ryu” do mestre Miyamoto Musashi, o “Suio Ryu Iai Kenpo”, imortalizado nas páginas do “Lobo Solitário” Kozure Ookami, o “Shindo Muso Ryu Jojutsu” do mestre Muso Gonnosuke Katsuyoshi, o “Tenshin Shoden Katori Shinto Ryu” criado por Iizasa Choisai Ienao há quase 700 anos, além do “Ishin Ryu Kusarigama jutsu” e do o Ikkaku ryu Jitte jutsu entre tantos outros. “Esse foi o início do caminho em busca das origens e da invencibilidade”, revela o Sensei. Entre tantas outras facetas, o mestre também é formado em medicina esportiva pela Unifesp (antiga Escola Paulista de Medicina). É escritor e também criador do método KIR, que na sigla em inglês significa Ken Intensive Recuperation ou Recuperação Intensiva através da Espada. Dentro da tradição guerreira dos samurais, ele possui o “Menkyo Kaiden”, a graduação mais alta no “Hyoho Niten Ichi Ryu Kenjutsu”, estilo desenvolvido pelo mestre Samurai Miyamoto Musashi, o mais famoso de todos os tempos e imbatível em mais de 60 duelos. Com seu conhecimento acumulado em mais de 40 anos de treinamento nos diferentes estilos, sua educação austera, o convívio com os últimos mestres samurais no Japão, a sua formação e experiência como médico do
    esporte, uma experiência de 10 anos no meio militar e o fato de ser brasileiro, compõem os seis pilares do método KIR. São esses fatores que tornam as aulas imensamente mais
    enriquecedoras. É uma profunda viagem em busca da essência da espada e da filosofia samurai. Desse ponto de vista, esse método é a ferramenta fundamental que canaliza os
    ensinamentos da filosofia e da cultura japonesa no dia a dia do praticante, fazendo com que eles adquiram, sobretudo, tranquilidade, controle, disciplina e autoconfiança. Sua dedicação plena e integral em difundir os legados da tradição guerreira da espada samurai (Kobudo e o Bushido) foi reconhecida em vários estados e municípios do país. Seu legado é tão grande que o dia do seu aniversário, 24 de abril, é considerado o dia do samurai em São Paulo e em outros estados.

    Os samurais prezavam particularmente o treinamento militar. Através das artes marciais, era fortalecida tanto a sua técnica quanto o seu espírito. Mais do que acertar um alvo com sua flecha ou cortar algo com sua espada, um samurai sempre visava refinar seu espírito, com a autodisciplina e o autocontrole, para assim estar sempre preparado para as situações mais adversas possíveis. Tal preocupação com o espírito, ajudou as artes samurais a se salvarem da extinção na restauração Meiji (época em que os samurais viraram burocratas a serviço do governo). O Kobudo, como são conhecidos os estilos de combate criados pelos samurais, ainda é praticado nos dias de hoje. Ele envolve uma grande gama de armas e técnicas. Entre
    elas, destaque para o Kenjutsu*, o Iaijutsu*, o Naginatajutsu*, o Sojutsu* ou Yarijutsu*, o Jojutsu* e o Bojutsu*. A maioria destas artes foi modernizada. Elas são chamadas de “Gendai Budo”. É o caso do kendo, do aikido, do judô e do jiu-jitsu. Tanto o Kobudo como o Gendai Budo são praticados hoje em dia, muitas vezes se complementando.


    Em entrevista a Revista Bushido Brasil, Jorge Kishikawa revela quais suas atuais pretensões com a mais tradicional das artes marciais:


    RBB – Quais são as diferenças básicas entre os ensinamentos desenvolvidos no instituto e às outras artes marciais?
    Sensei
     –  Eu não conheço profundamente as outras artes marciais, mas pelo conhecimento que adquiri ao longo das décadas de treinamento me parece que elas carecem da parte filosófica. É difícil explicar, mas vai desde o convívio e passa pelos mestres. É o nosso método KIR. Fui buscar um conhecimento do outro lado do mundo e de uma época muito anterior a nossa. Eu sempre remei contra a maré. Eu ia para o Japão aprender as técnicas antigas, enquanto os japoneses estavam mais interessados em beisebol. Era a americanização gerada depois da 2º guerra mundial. Então eu tive aulas com os últimos samurais legítimos. Filhos e netos de samurais. Faço isso há quarenta anos. Vou para lá de duas a três vezes ao ano. Sou o neto que eles queriam ter e que o pós-guerra não “permitiu”. Fui atrás do conhecimento. Bebi na fonte. Vivi na casa deles e isso me tornou o homem que sou hoje.

    RBB – O que buscam os alunos que vão até a sua escola?

    Sensei –  Eles buscam por uma mudança interior. Eles têm a esperança de encontrar algo que eles não encontraram nas outras modalidades. Os filhos ou netos de japoneses vêm até aqui na intenção de resgatar as origens. Os jovens de hoje estão interessados nisso. Diferente da minha época onde eles repudiavam. Por isso que disse que eu remei contra a maré. Outros buscam a felicidade. Alguns uma forma de se superar na vida buscando estratégias para melhorar no trabalho, na escola e no convívio de uma forma geral.

    RBB – No que o ensinamento samurai pode ajudar em nosso mundo moderno?

    Sensei –  Ele ajuda desde prevenir um acidente de trânsito, até você acordar mais cedo e aproveitar o dia. Nosso treinamento não deixa que a pessoa se envolva em um problema banal. Você é respeitado por seu colega de trabalho. Você melhora seu desempenho no estudo e obviamente você melhora sua saúde. Isso faz com que seu dia a dia fique muito melhor e muito mais suportável. Nosso ensinamento serve para orientar a vida.

    RBB – No que a vida do senhor como médico ajudou na arte marcial ou vice-versa?

    Sensei –  Dentro do ponto de vista médico esportivo, alguns conceitos estavam um pouco ultrapassados. Então tínhamos muitas lesões. Em cima disso verifiquei que alguns exercícios não eram adequados para determinada técnica. Outro detalhe é que com minha formação eu consigo ver o que cada discípulo carrega de problema e que traz para o instituto. Não me importa sua medalha. Não me importa sua graduação. O importante é que nosso aluno seja feliz.

    RBB – Todos os equipamentos para a prática desta arte não são baratos. O instituto dispõe de alguma bolsa para aqueles que querem iniciar neste caminho?

    Sensei –  Sim. Temos bolsas em todas as nossas escolas. É só entrar em contato com o instituto mais próximo e verificar as possibilidades.

    RBB – Sensei, o nome da nossa seção é “Zen no Cotidiano”. O senhor se considera um cara zen?

    Sensei –  O zen do ponto de vista mais tradicional diz que não devemos nos apegar a nada. Por este lado eu não sou zen. Sou muito apegado a minha saúde, sou muito apegado a minha família, aos meus alunos. Então do ponto de vista religioso eu não sou zen. Eu sou budista, mas não sou zen. Agora no sentido do zen popularmente dito e que diz respeito a uma pessoa calma e tranquila eu me considero zen. Eu tenho muito claro em minha mente tudo o que devo fazer e tenho muita segurança em tudo. Tenho esclarecimento do mundo e é por isso que eu me considero zen. Todo o meu minuto é vivido de forma intensa.



    Kenjutsu* – Arte da Espada
    Iaijutsu* – Arte de desembainhar a espada
    Naginatajutsu* – Arte do bastão longo com lâmina
    Sojutsu* ou Yarijutsu* – Arte da lança
    Jojutsu* – Arte da Paz
    Bojutsu* – Arte do bastão 


    Continua (post completo)




    topo

    +55 11 94294-8956
    contato@niten.org.br