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Café com o Sensei

Pensamentos e comentários do Sensei Jorge Kishikawa




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    01-out-2014

    Revista Bushido Brasil - Espírito Samurai

    É com alegria que recebo este exemplar da revista "¨Bushido".
    Tal como escreveu o editor chefe desta, o objetivo deste número é mostrar aos leitores a origem que leva o nome da revista.
    E sobre este assunto, não com orgulho, mas com a certeza de estar cumprindo a missão, acredito que consegui ilustrar um pouco sobre.
    Hoje, no vôo vindo de Frankfurt ao Japão, sentou ao meu lado um senhor japonês com os seus 70 e poucos anos voltando de um tour pela Alemanha e Itália, cenas comuns entre os aposentados. Mas este, diferente da maioria dos japoneses, estava curioso por me conhecer.
    Quando soube o que eu fazia, me agradeceu com uma reverência por estar difundindo a cultura e o espirito japonês, este último que está se perdendo aqui com a globalização e mudança dos tempos. Fiquei um tanto sem jeito.
    Apertou me a mão (coisa rara entre nós japoneses), me entregou seu cartão de visitas, se desculpou pela petulância e, por final, pediu me para que continuasse com a missão.
    -Ganbarimasu. - Respondí-lhe em nome do Bushido.












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    Texto da Matéria Publicada na Revista Bushido Brasil:

    "ZEN NO COTIDIANO
    Espírito Samurai 


    A tradição dos lendários guerreiros japoneses está mais viva do que nunca e é ensinada no Brasil de forma idêntica ao que era no Japão de 700 anos atrás


    A busca pela perfeição. Essa era a vida dos samurais no antigo Japão. Disciplinados, organizados e com extremo sentido de trabalho em equipe, estes homens foram durante séculos parte da elite japonesa. Em São Paulo, todo este conhecimento e disciplina são repassados por um discípulo direto de antigos mestres da terra do sol nascente. O Sensei Jorge Kishikawa, criador a mais de vinte anos do Instituto Cultural Niten, espalha os ensinamentos milenares das artes da espada samurai. Além disso, em sua escola, o praticante imerge em um mundo onde a filosofia do Bushido e da cultura japonesa são os principais focos. O Bushido (o caminho do guerreiro) era e continua sendo, um rígido código de conduta que regra a vida de qualquer samurai. Este código não é escrito, mas ele é assimilado com o decorrer das décadas de treinamento. A conduta de qualquer praticante da arte da espada, o “Kenjutsu”, ensinado pelo Sensei Jorge, é pautado nas virtudes do Bushido (honra, sinceridade, compaixão, honestidade, lealdade, coragem, humildade, cortesia e polidez). É desta forma que ele comanda seu tradicional “dojo” desde 1993. Atualmente, o Instituto Niten, é considerado um dos maiores centros de ensino das artes tradicionais dos Samurais fora do Japão. Mais de 10 mil pessoas já passaram por lá. São 50 dojos espalhados pelo Brasil, Argentina, Chile, Uruguai, México, Estados Unidos e Europa. Todos com o mesmo intuito, “buscar a invencibilidade e trazer a espada que dá a vida. Em abundância”.

    De acordo com o Sensei Jorge, que desde a adolescência visita o Japão – já foi mais de 100 vezes, para poder “beber da fonte” como ele mesmo gosta de dizer, o treinamento consiste em aprender as técnicas (katas) que há mais de 700 anos eram ensinadas e aplicá-las no combate. Este treinamento, aliado a orientação filosófica, possibilita que haja a metamorfose do cidadão comum para o “guerreiro”, permitindo uma melhoria na qualidade de vida do praticante. O mestre é o primeiro 7º Dan desta arte no Brasil. Ele foi aprovado com unanimidade por uma banca de mestres japoneses. Sua educação tradicionalmente japonesa foi complementada a partir dos seis anos quando iniciou na prática do Kendo. Dentre os inúmeros títulos, sagrou-se pentacampeão brasileiro de forma consecutiva, por 2 vezes, invicto em quase 80 embates. Foi vice-campeão mundial em 1985, em Paris e 3º colocado no mundial em 1977, em Tóquio.

    Sempre buscando incessantemente os conhecimentos do “Kobudo” – (ko – antigo; budo – artes samurais), ele descobriu os segredos dos estilos de combate criados pelos samurais. Dentre eles, podemos destacar o “Hyoho Niten Ichi Ryu” do mestre Miyamoto Musashi, o “Suio Ryu Iai Kenpo”, imortalizado nas páginas do “Lobo Solitário” Kozure Ookami, o “Shindo Muso Ryu Jojutsu” do mestre Muso Gonnosuke Katsuyoshi, o “Tenshin Shoden Katori Shinto Ryu” criado por Iizasa Choisai Ienao há quase 700 anos, além do “Ishin Ryu Kusarigama jutsu” e do o Ikkaku ryu Jitte jutsu entre tantos outros. “Esse foi o início do caminho em busca das origens e da invencibilidade”, revela o Sensei. Entre tantas outras facetas, o mestre também é formado em medicina esportiva pela Unifesp (antiga Escola Paulista de Medicina). É escritor e também criador do método KIR, que na sigla em inglês significa Ken Intensive Recuperation ou Recuperação Intensiva através da Espada. Dentro da tradição guerreira dos samurais, ele possui o “Menkyo Kaiden”, a graduação mais alta no “Hyoho Niten Ichi Ryu Kenjutsu”, estilo desenvolvido pelo mestre Samurai Miyamoto Musashi, o mais famoso de todos os tempos e imbatível em mais de 60 duelos. Com seu conhecimento acumulado em mais de 40 anos de treinamento nos diferentes estilos, sua educação austera, o convívio com os últimos mestres samurais no Japão, a sua formação e experiência como médico do
    esporte, uma experiência de 10 anos no meio militar e o fato de ser brasileiro, compõem os seis pilares do método KIR. São esses fatores que tornam as aulas imensamente mais
    enriquecedoras. É uma profunda viagem em busca da essência da espada e da filosofia samurai. Desse ponto de vista, esse método é a ferramenta fundamental que canaliza os
    ensinamentos da filosofia e da cultura japonesa no dia a dia do praticante, fazendo com que eles adquiram, sobretudo, tranquilidade, controle, disciplina e autoconfiança. Sua dedicação plena e integral em difundir os legados da tradição guerreira da espada samurai (Kobudo e o Bushido) foi reconhecida em vários estados e municípios do país. Seu legado é tão grande que o dia do seu aniversário, 24 de abril, é considerado o dia do samurai em São Paulo e em outros estados.

    Os samurais prezavam particularmente o treinamento militar. Através das artes marciais, era fortalecida tanto a sua técnica quanto o seu espírito. Mais do que acertar um alvo com sua flecha ou cortar algo com sua espada, um samurai sempre visava refinar seu espírito, com a autodisciplina e o autocontrole, para assim estar sempre preparado para as situações mais adversas possíveis. Tal preocupação com o espírito, ajudou as artes samurais a se salvarem da extinção na restauração Meiji (época em que os samurais viraram burocratas a serviço do governo). O Kobudo, como são conhecidos os estilos de combate criados pelos samurais, ainda é praticado nos dias de hoje. Ele envolve uma grande gama de armas e técnicas. Entre
    elas, destaque para o Kenjutsu*, o Iaijutsu*, o Naginatajutsu*, o Sojutsu* ou Yarijutsu*, o Jojutsu* e o Bojutsu*. A maioria destas artes foi modernizada. Elas são chamadas de “Gendai Budo”. É o caso do kendo, do aikido, do judô e do jiu-jitsu. Tanto o Kobudo como o Gendai Budo são praticados hoje em dia, muitas vezes se complementando.


    Em entrevista a Revista Bushido Brasil, Jorge Kishikawa revela quais suas atuais pretensões com a mais tradicional das artes marciais:


    RBB – Quais são as diferenças básicas entre os ensinamentos desenvolvidos no instituto e às outras artes marciais?
    Sensei
     –  Eu não conheço profundamente as outras artes marciais, mas pelo conhecimento que adquiri ao longo das décadas de treinamento me parece que elas carecem da parte filosófica. É difícil explicar, mas vai desde o convívio e passa pelos mestres. É o nosso método KIR. Fui buscar um conhecimento do outro lado do mundo e de uma época muito anterior a nossa. Eu sempre remei contra a maré. Eu ia para o Japão aprender as técnicas antigas, enquanto os japoneses estavam mais interessados em beisebol. Era a americanização gerada depois da 2º guerra mundial. Então eu tive aulas com os últimos samurais legítimos. Filhos e netos de samurais. Faço isso há quarenta anos. Vou para lá de duas a três vezes ao ano. Sou o neto que eles queriam ter e que o pós-guerra não “permitiu”. Fui atrás do conhecimento. Bebi na fonte. Vivi na casa deles e isso me tornou o homem que sou hoje.

    RBB – O que buscam os alunos que vão até a sua escola?

    Sensei –  Eles buscam por uma mudança interior. Eles têm a esperança de encontrar algo que eles não encontraram nas outras modalidades. Os filhos ou netos de japoneses vêm até aqui na intenção de resgatar as origens. Os jovens de hoje estão interessados nisso. Diferente da minha época onde eles repudiavam. Por isso que disse que eu remei contra a maré. Outros buscam a felicidade. Alguns uma forma de se superar na vida buscando estratégias para melhorar no trabalho, na escola e no convívio de uma forma geral.

    RBB – No que o ensinamento samurai pode ajudar em nosso mundo moderno?

    Sensei –  Ele ajuda desde prevenir um acidente de trânsito, até você acordar mais cedo e aproveitar o dia. Nosso treinamento não deixa que a pessoa se envolva em um problema banal. Você é respeitado por seu colega de trabalho. Você melhora seu desempenho no estudo e obviamente você melhora sua saúde. Isso faz com que seu dia a dia fique muito melhor e muito mais suportável. Nosso ensinamento serve para orientar a vida.

    RBB – No que a vida do senhor como médico ajudou na arte marcial ou vice-versa?

    Sensei –  Dentro do ponto de vista médico esportivo, alguns conceitos estavam um pouco ultrapassados. Então tínhamos muitas lesões. Em cima disso verifiquei que alguns exercícios não eram adequados para determinada técnica. Outro detalhe é que com minha formação eu consigo ver o que cada discípulo carrega de problema e que traz para o instituto. Não me importa sua medalha. Não me importa sua graduação. O importante é que nosso aluno seja feliz.

    RBB – Todos os equipamentos para a prática desta arte não são baratos. O instituto dispõe de alguma bolsa para aqueles que querem iniciar neste caminho?

    Sensei –  Sim. Temos bolsas em todas as nossas escolas. É só entrar em contato com o instituto mais próximo e verificar as possibilidades.

    RBB – Sensei, o nome da nossa seção é “Zen no Cotidiano”. O senhor se considera um cara zen?

    Sensei –  O zen do ponto de vista mais tradicional diz que não devemos nos apegar a nada. Por este lado eu não sou zen. Sou muito apegado a minha saúde, sou muito apegado a minha família, aos meus alunos. Então do ponto de vista religioso eu não sou zen. Eu sou budista, mas não sou zen. Agora no sentido do zen popularmente dito e que diz respeito a uma pessoa calma e tranquila eu me considero zen. Eu tenho muito claro em minha mente tudo o que devo fazer e tenho muita segurança em tudo. Tenho esclarecimento do mundo e é por isso que eu me considero zen. Todo o meu minuto é vivido de forma intensa.



    Kenjutsu* – Arte da Espada
    Iaijutsu* – Arte de desembainhar a espada
    Naginatajutsu* – Arte do bastão longo com lâmina
    Sojutsu* ou Yarijutsu* – Arte da lança
    Jojutsu* – Arte da Paz
    Bojutsu* – Arte do bastão 




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